Repentino, como sempre. Às vezes acompanhada de uma dose de esperança. Essa, uma ilusão confortável do que poderia ter acontecido. Um pensamento terrível do que pode ter acontecido. Esperança é a face sacana de quem brinca com a mente.
Areia
Problemas. A cabeça cheia, o corpo tenso. Pensamentos que importam tudo de ruim da semana anterior. Adivinhando o que de ruim poderá acontecer na semana seguinte. As incertezas carregando experiências passadas, combinadas com pessimismo cultivado há tempos e autoestima mantida sob rédeas curtas. O sucesso do Sistema.
Só
Gosto do silêncio. Da ausência de preocupação com o que vai acontecer. De sentar no chão, feito criança, até sentir as pernas formigando. Aproveitar e me deitar, porque gosto de olhar para o teto. De sentir o frio percorrer a pele em contato com o piso.
Feliz o que mesmo?
Era tarde, talvez próximo da meia-noite. Ele não queria saber. A cadeira em que estava era gelada, assim como os relacionamentos que tentava cultivar ou a família que tentava agradar. O celular vibrava no bolso, mas se revelara um fantasma. Uma síndrome adquirida com a modernidade. Pensava se aquele fantasma assumiria uma forma maior e assustadora e o levaria para visitar o próprio passado. No final, concluiu que não. Por que faria isso com alguém que repensa sem parar as próprias ações?
Rachaduras
“Eu sou gay.” Era isso o que Henrique queria ter dito durante a discussão com a mãe no carro. Enquanto ouvia as palavras “quando você vai nos apresentar uma namorada?” e respondia com um “não vou”. Sentia tremer as camadas de mentira que mantinham uma imagem diferente para os outros. Ninguém se explica quando se é hetero. Ninguém deveria se preocupar com quem a outra pessoa vai amar. O problema estava em achar que heterossexuais amam e homossexuais fazem sacanagem.