Aquilo que desestabiliza cresce. Aproveita as brechas. Cria momentos de crise, alimentando passados que de tão revividos ganham tons suspeitos. As incertezas são impulsionadas, o chão perde consistência. A vontade de sair da cama some.
Horas são gastas na relação entre travesseiro, coberta e memórias. Peso sobre os ombros é melhor suportado quando o corpo está deitado, inerte. O futuro não parece tão urgente. O presente não parece importante. Aqueles fracassos do passado não assumem formas tão assustadoras, pelo menos no começo.
As sombras se aproximam iludindo a mente com chuvas de possibilidades. Carregam sorrisos falsos e o remédio para curar as experiências ruins, propondo resoluções diferentes para o que passou. Intensas, conseguem convencer de que sim, dava para ter feito algo diferente. Instalam a culpa por não ter sabido disso.
Ao mesmo tempo, drenam energia e vão cada vez mais assumindo forma física. Mergulham mais fundo, revivem mais pesadelos e memórias. Editam e transformam qualquer parte que poderia servir como saída do limbo. Vendem ilusões e aproveitam a esperança crescendo a partir delas.
Quando a cura não parece óbvia e o túnel perde qualquer indício de luz no final, o seu toque provoca alívio. Dissipa as nuvens escuras, as sensações de instabilidade. De que meus passos foram errados e minhas ações equivocadas. Traz para perto o prazer de ter uma mente neutra e em paz com os próprios demônios.
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