Problemas. A cabeça cheia, o corpo tenso. Pensamentos que importam tudo de ruim da semana anterior. Adivinhando o que de ruim poderá acontecer na semana seguinte. As incertezas carregando experiências passadas, combinadas com pessimismo cultivado há tempos e autoestima mantida sob rédeas curtas. O sucesso do Sistema.
O céu convidativo parece suspeito. Azul intenso com nuvens espalhadas. Entregar-se a ele faria bem? Brisa leve, aumenta conforme a praia se aproxima. Transforma-se em vento refrescante, invadindo os cabelos, roupas e a alma. Nunca se sabe se uma sensação é bem-vinda até ela provocar-lhe arrepios e o corpo suplicar por mais. Por sorte, há mais.
Primeiro foi o som. Não o das pessoas conversando, mas a sinfonia de ondas chegando até a areia. Delas batendo nas pedras ou indo de encontro uma na outra. Depois foram os pássaros abraçando o azul logo acima. Asas, queria um dia para experimentá-las. Porém, sabia que mesmo se conseguisse-as, esse dia seria tomado pelo medo de voar.
Chinelos nas mãos, os pés vão de encontro à areia. Textura áspera preenchendo os espaços entre os dedos, estimulando as terminações nervosas. Compactada pelo peso concentrado em um dos membros, a areia assume novamente seu estado natural após o peso ser transferido para o outro pé, dando espaço para o próximo passo. Um de cada vez.
Driblando os guarda-sóis, ignora tudo o que possa remeter à vida humana. O arrepio provocado pela brisa e ampliado pela areia branca toma proporções maiores. A mente divaga. Calor acumulado nos grãos provoca incômodo que pede urgência em ser acalmado. Os passos aceleram.
Ondas são convidativas e a sensação da areia molhada já garante a qualidade do encontro. O corpo estremece. Com as águas indo e voltando sobre os pés, desestabiliza-se. Olhos fechados, sorri para o céu e principalmente para si. Compreende os estímulos que o corpo estava recebendo e agradece, porque com aquilo tudo os problemas estavam transformando-se em grãos de areia.