Isso aconteceu em janeiro, quando estava em uma das praias de Santa Catarina. A última vez que tirei a camiseta em público foi em 2009, antes de emagrecer.
Antes de ir até a praia, fiquei sem camiseta no hotel e olhei para o reflexo no espelho. Faço isso com frequência, numa mistura de narcisismo e preocupação com a saúde do corpo. Gostei do que vi. Faltava um caminho pra percorrer ainda, mas a imagem refletida era boa.
Eu achava que a maior parte de mim estava bem resolvida. Afinal, tinha emagrecido, arrumado algumas doses de segurança e tropeçado no narcisismo pelo caminho. Muitas coisas se resolveram com as gorduras perdidas. A pequena parcela insatisfeita que sobrou, meu plano era saciar através da academia.
Na praia, os pés na areia foram acompanhados com a retirada da camiseta e a chegada do desconforto. Lembro de ter encolhido os ombros para frente. Talvez cruzado os braços. Tinha tirado minha “capa de segurança” e procurava uma forma de substituí-la.
Andei pela margem sentindo a água gelada subir até bater no calção. Era bem-vinda, deixando minha preocupação de lado e me permitindo assumir uma postura mais confortável.
Estava pensando em uma foto para o projeto do Instagram que tinha começado. Aquela era uma boa oportunidade para tê-la. Seria o meu recorte contrastando com a claridade do oceano e do céu (ao estilo dessa que ilustra o post). Pedi pro meu irmão tirar depois de configurar o celular.
Com aquela foto, o que tinha certeza sobre mim caiu por terra. Diferente do que pensei, a parte que acreditava que tudo estava bem era a menor e mais sensível, bastando uma olhada em uma única foto para se desestabilizar e desmoronar, levando toda minha confiança junto. Tomei consciência e senti vergonha. Ao mesmo tempo que diminuía minha existência, achava que meu corpo aumentava chamando mais a atenção. Paradoxo. Fui taxado e rotulado. Tudo por mim mesmo.
Pelos óculos escuros observava as outras pessoas. Na hora elevando seus corpos a melhores do que o meu e ignorando o fato de que cada biotipo é diferente. Eles passavam, dos gordinhos aos sarados, e eu não percebia a profundidade que o veneno do corpo perfeito havia tomado em mim. Caminhei mais alguns metros e me rendi, colocando a camiseta de novo.
Não sou meu corpo. Não deveria ser. Por que dar tanta importância pra isso? A vergonha me consumiu durante a volta até o hotel e sua sombra permaneceu por dias. Ainda me mutilei mentalmente por permitir que ela tomasse conta e eu sentisse aquilo. Aumentei a pressão sobre mim achando que meu corpo é que estava errado.
A gente só consegue tentar ser feliz quando para de se ver com os olhos inventados dos outros. Quando tira a imagem depreciativa da cabeça. Ninguém se importa. Ao menos, ninguém deveria se importar além do necessário pra manter a própria saúde.
Muito bom, Luan, realmente sei como se sente, já passei pela mesma coisa.
O q posso dizer? Sei como é olhar no espelho e desejar ser outra pessoa :/