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Antes, quero deixar claro que não tenho qualquer intenção de tornar esse post uma mensagem motivacional. Não estou aqui pra falar para você “emagreça!”. Escrevi isso para mostrar o meu caso, o que fiz para reverter e como estou agora. Absorva o conteúdo desses parágrafos da forma que bem entender.

Put The Soul To Rest by Jefferson Ramos on 500px.com
Put The Soul To Rest by Jefferson Ramos

Eu era magro quandcriancao criança. Brincava, corria. Aos sete anos, recebi a notícia de que teria um irmão. Vendo algumas fotos, talvez isso tenha desencadeado todo o processo. Talvez seja algo genético. Talvez a comida tenha sido uma maneira dos meus pais mostrarem que, apesar do irmãozinho, eu ainda era amado. Não sei exatamente, são muitas variáveis e a memória daquela época não é clara. Não culpo meus pais, não completamente. Não culpo meu irmão. Mas é fato: comecei a engordar poucos meses depois que ele nasceu.

2007
2007

Aos 13 anos (ou 14), cheguei aos 105kg. O ápice. Fiquei assim por alguns anos. A autoestima se perdeu nesse período. Sim, teve bullying na escola. Sobrevivi a ele sem muitas sequelas. Por um tempo tudo estava normal. Ser gordo não me prejudicava e comer era fantástico. Comia muito e sempre. Em alguns momentos caía em um buraco de autoflagelação. O problema foi sempre me comparar aos outros. Bombardeamento de revistas, internet, filmes e até os amiguinhos da escola tinha um corpo melhor. A quem eu queria enganar? Eu era uma bola de queijo com braços e pernas. Não estava feliz e me convencer do contrário era uma luta diária. As vezes eu perdia e ficava triste pra caramba.

2008/2009
2008/2009

Todos os anos, na lista de planejamento de fim de ano, emagrecer era o primeiro item. Nunca funcionava. Com a puberdade e a adolescência, estiquei um pouco e desci para os 93kg. Não foi um milagre estilo Matthew Lewis, ator nos filmes de Harry Potter, mas emagreci. Fiquei assim por mais um tempão. Fui na falsa formatura da 8ª série seduzindo com estilo. Estava feliz. Ainda era 93, continuava gordo, mas pelo menos não era 105. Ensino médio, gordinho, bullying. Mergulhei nos livros, mudei de escola e continuei a minha vida. Frequentemente caía no buraco de autoflagelação. Ouvia “depois quer emagrecer” quando alguma coisa acontecia e eu precisava comer para tentar aliviar. Comer era uma válvula gostosa de escape. Passei a ter mais consciência do físico dos outros. Mais televisão, internet, mais imagem de um padrão que eu precisava alcançar. Quanto mais via isso, mais eu comia.

2011
2011

Eu só tinha noção do quanto era gordo depois que emagrecia. Entrei para a faculdade com os meus 93kg. Seriam 4 anos até me formar. Ainda tinha a lista de planejamento de fim de ano. Mantida com os mesmos itens por muitos e muitos anos. Até esse momento, tentei dietas (que não funcionam), ficar sem comer por mais tempo, tentei de tudo um pouco. Não existe atalho para perder algo que você levou anos para ter. Mesmo indesejada, eu tinha muita gordura. E ela não foi criada do dia para a noite. Eu não conseguia emagrecer por mim mesmo. E é aqui que entra um fator desencadeante importante.

Em março de 2012 alguma coisa aconteceu. Algo que deu início a uma coisa fantástica. Acordei com uma onda de determinação me invadindo: preciso ir em uma nutricionista. Mas isso tudo não aconteceu por mim. Eu emagreci por outra pessoa e ela não faz ideia de que foi o motivo para isso acontecer.

4abril2012
Abril 2012

Tenho dificuldades em fazer as coisas por mim mesmo. Não consigo ser minha própria motivação. Quando sou, fica aquela aura de “será que consigo?”. Quando não dá certo, vem a cobrança que corrói por semanas. A diferença é que, as pessoas que me motivam não sabem de nada. E é assim que eu consigo funcionar. Eu faço para os outros, em contrapartida, os benefícios são todos meus. Entendeu? Não há cobranças desnecessárias, as chances de dar certo são maiores – já que eu quero “mostrar” para a pessoa que me inspirou os resultados que eu conquistei. Se você não consegue fazer por você mesmo, escolha alguém que goste muito. Alguém que te inspire, cause admiração e faça por ela. Mas, se não der certo, não jogue a culpa no outro. Ela servirá apenas como um catalizador. A força, determinação, culpa, erros e, principalmente, os benefícios, serão todos seus.

E não terá nada melhor do que “a pessoa escolhida” ver os resultados e te elogiar por isso. Garanto. É uma forma de dependência, precisar do outro para conseguir, mas encaro isso melhor do que me afundar em tentativas falhas.

Contatei uma nutricionista e marquei. Estava comprometido e desistir não era mais uma opção. Mesmo tendo outra pessoa como um fator motivação, eu resolvi fazer isso. E não foi pela saúde. Decidi começar a emagrecer por causa da estética.

nutricionistaMinhas medidas foram tiradas. Altura, peso… Eu era pré-obeso. 93,7kg com 1,78 de altura. A meta era chegar aos 80kg, com pequenas metas para as semanas. Uma semana depois recebi o cardápio. Tudo levando em conta o que eu gostava e o que não gostava. Tudo com opções variadas para eu escolher, caso enjoasse. Emagrecer não foi terrível. Era permitido exageros uma vez por semana (dois pedaços grandes de pizza, por exemplo). Eu comia mais vezes durante o dia e raramente a sensação de fome aparecia. Emagreci 4 quilos na primeira semana. E na segunda também. Na terceira, perdi mais 2 quilos. Meu cardápio mudou, menos calorias, para fechar de vez e alcançar a meta final. Emagreci o restante nas semanas seguintes. Três meses (ou menos) de acompanhamento. Não passei fome.

Minha mãe começou a reeducação alimentar comigo, mas ela não conseguiu. Eu consegui. Emagreci e cheguei aos 80kg. Porém, só foi possível porque a minha motivação estava sendo fornecida por uma pessoa diferente. Eu poderia ter desistido também.

10marco2013
10 de março 2013

Recebi alta porque a nutricionista não queria que eu emagrecesse mais, mesmo eu querendo mais um pouquinho. Recebi outro cardápio para me manter no “peso ideal”. Nunca mais voltei para lá. Nunca mais segui o cardápio. Perdi mais 5kg e hoje mantenho-me nos 75kg, variando conforme a semana. Não engordei de volta.

Hoje não sou o cara mais autoconfiante do mundo. Não tenho um corpo perfeito. Não como exatamente (e tão corretamente) como quando aprendi na nutricionista. Ainda adoro chocolate – Kit Kat, melhor invenção. Me olho no espelho com frequência. Devo ter tropeçado no meu lado narcisista pelo caminho. Tenho marcas – físicas e psicológicas – que me lembram dessa época. O que é uma coisa boa. Se você esquece, corre o risco de repetir o mesmo erro.

Emagrecer não é mais o primeiro item da lista.

https://www.youtube.com/watch?v=ef84pIwVxiM

16 comentários em “Emagreci”

    1. Durante não. Comecei com boxe um mês depois. Recomendação para não ficar com a pele flácida e recuperar a massa magra que, inevitavelmente, perdi também.

  1. Nossa, q legal. Eu estou na fase do “preciso, mas não consigo ter o estimulo certo”. Não sabia q vc já tinha sido gordinho. Meus parabéns sinceros, porque tomar a decisão de sair da zona de conforto não é nada fácil, especialmente quando todos ao redor continuam a comer suas guloseimas sem culpa. Parabéns de verdade!!!!

  2. Não tenho intenção de ofender, depois de um texto maravilhoso como esse é normal alguns errinhos:
    Intenção é com ç.
    contrapartida é junto.
    Você comeu um s e soltou um r na palavra marcas, no ultimo parágrafo quando disse que tem marcas físicas e psicológicas de quando era gordo.
    Quando você abre uma ideia com hífen você precisa fechar com hífen senão a ideia fica vaga e o leitor fica procurando a conclusão daquela parte.

    Se eu pudesse colocava esse comentário em privado. Me desculpe se te aborreci – eu gostaria que fizessem o mesmo comigo – mas a verdade é que esses errinhos são quase imperceptíveis diante desse texto exorbitante.
    Eu também emagreci, senti o mesmo que você sentiu no 2º, 3º e 4º parágrafo mas infelizmente alguns altos e baixos na minha vida me fizeram engordar novamente. Em 2011-2012 emagreci cerca de 35kg e finalmente experimentei o que é estar dentro dos padrões de beleza (não serei hipócrita em não falar que foi maravilhoso, é triste, mas foi maravilhoso) mas infelizmente no final de 2012 – se você já assistiu Grey’s Anatomy me entenderá melhor – eu tive um conflito grande em minha vida com “my person” e entre atos que apontam para vigorexia e bulimia eu engordei 15kg. Felizmente emagreci de novo em 2013 e cheguei aos 64kg. O que me dói bastante é que eu me deixei levar de novo e, dessa vez engordei tudo e voltei ao estágio 1. Infelizmente eu não estou motivada a emagrecer novamente, eu até quero, mas como você disse no 3º parágrafo , eu não consigo ser meu encorajamento, preciso “da pessoa” e isso não faz bem. Eu gostaria de te dar parabéns pela sua determinação, não conseguia te imaginar gordo.
    Agora que escrevi esse texto eu realmente não sei por que eu tive intenção de te enviar. Só vou enviar por que dediquei um certo tempo da minha vida a isso.

    1. Não me aborreceu, Diego. Fico muito grato por ter me falado e já arrumei. Obrigado mesmo. 🙂

      Eu te entendo. Antes, entre os 105 e 93kg, fiquei em um efeito sanfona terrível. O emocional se quebra por completo e a gente não sabe no que se segurar.
      Peguei a referência de “Grey’s Anatomy” (adoro essa série <3).

      Agradeço por você ter compartilhado sua história comigo. Só te peço para que não desista e não se deixe levar por muito tempo. Sei o quanto é difícil, ô como sei.

      Obrigado, novamente.

  3. Força de vontade e perseverança rapaz, isso faz toda diferença. Uma pessoa que é capaz de fazer o que você fez, e manter, o que é mais difícil, é capaz de qualquer coisa. Parabéns!!!

  4. Faz tempo que eu estou te stalkeando aqui sem deixar comentário haha Gosto dos seus textos moço.
    Gordinho ou não, você é uma graça Luan <3

    Comigo foi o processo contrário. Eu era magra, magra, magra ao extremo, mas em compensação, era mais alta que todo mundo. Imagine que coisa "maravilhosa". Era zuada, me sentia feia, parecia que todas as meninas eram mais bonitas que eu, sabe? E com as mulheres, a pressão no quesito beleza é muito maior. Foram maus bocados.
    Foi só quando me aceitei como eu era e passei a deletar comentários que nada me acrescentavam que comecei a gostar do que eu via no espelho.
    Até hoje, às vezes, tenho um resquício daquele sentimento de inferioridade que eu tinha naquela época. Mas felizmente, passa rápido =D
    Grande texto!
    Abraços.

  5. Luan, que texto legal e, SIM, é inspirador E motivador! Não apenas pela parte estética de emagrecer e tal… mas a força de vontade que você teve para mudar uma situação que não gostava. Eu sou parecida com você quando diz que “depende” de outro para fazer alguma coisa… eu também não consigo me motivar sozinha, parece que preciso de outra pessoa “me desafiando” para fazer algo. Adorei o seu blog… =)

  6. Este seu texto me motivou. Mas no meu caso é o contrário. Sempre fui magra, sempre carreguei apelidos do tipo palito. Nunca consegui engordar por conta própria. Lendo esta publicação me deu motivação para procurar ajuda. Muito obrigado e parabéns Luan!

  7. Passei pelo mesmo que você. Já cheguei a pesar 100kg no Ensino Média. Eu era o “gordinho gente boa e CDF” da sala. Somente consegui emagrecer quando tive um estímulo. Esse estímulo me fez perder 28kg em 1 ano. Apenas com Dieta eu perdi esse peso. Estou muito satisfeito comigo mesmo e minha auto-estima está lá em cima. Acho que eu também tropecei no “narcisismo” no período de emagrecimento, sempre me olho no espelho – não que eu me sinta o mais lindo do mundo, mas eu sou bonito e orgulhoso dessa minha conquista. Segue o link do meu antes e depois. (https://fbcdn-sphotos-b-a.akamaihd.net/hphotos-ak-frc3/424526_387110861303197_1085508074_n.jpg)

    Parabéns!

  8. Muito legal Luan! Parabéns pelo esforço. Eu que tenho que perder só uns 10kg já fico achando que é o fim do mundo hauhuahauhauha. Pelo menos eu nunca pensei em tomar nenhum atalho, mas também não pensei em me esforçar tanto =/ Acho que tenho que tomar vergonha na cara mesmo…

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