As pernas apressam-se. Minha respiração aumenta. Sinto o ar gelado se perder na garganta. O barulho das folhas secas sendo esmagadas juntando-se aos pios das corujas me observando. Os galhos chocam-se contra meu rosto. Não consigo enxergar direito. Preciso correr. Preciso encontrar um lugar seguro e me esconder. Não olho para trás.
Corro o máximo que posso, mas a sensação de ter aquilo sempre está atrás de mim não me abandona. O coração batendo forte. Uma pontada na barriga, seguida de outra e mais outra. A fadiga está tomando conta. Preciso continuar correndo. Desvio de troncos, pedras e pulo por cima de raízes com dificuldade. A luz da lua penetra pelas falhas das copas das árvores, ajudando a enxergar. Aquilo continua, cada vez mais perto. Minha visão começa a falhar. Meu corpo reclamando dos anos sendo sedentário.
Uma fraca luz, logo em frente, no meio da escuridão. Esperança. Uma cabana. Posso ficar seguro. Corro. Ignoro a dor. Limpo o suor da testa. Junto o que não tenho de energia e corro. Abro e fecho a porta muito rápido. Tento controlar a respiração apressada. Amenizar a dor nos músculos. Não funciona. Apago a luz da vela ao lado da janela e agacho-me de costas para a porta. Os olhos se fecham. Imploro para que aquele monstro passe e não me encontre. Ouço uma música crescente. Um som de uma boy band conhecida. Uma sensação estranha aparece. O peito aperta. Um arrepio. Há alguém próximo. Abro os olhos e aquilo está bem na minha frente, segurando a vela acesa. Cabeça inclinada para o lado. Um sorriso maroto e vermelho na cara. Meu coração para. Os músculos tensionam. Não consigo me mexer.
– Que bom que você veio. – Sussurrando. Rosto pálido e caninos salientes. Olhos, refletindo a luz da vela, encaram-me. A língua passa sobre o lábio inferior. Dois segundos depois, sinto meu pescoço sendo perfurado e minha visão ficando turva. O som chiclete ecoa pela minha mente.
Fotografia: Absence by Marco Soggetto
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