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Possessão

A estrada lamacenta estava vazia. Graças à lua ele pôde vez por onde pisava. As grandes árvores projetavam suas sombras sobre o chão acobreado, nada se via além da estrada. O pobre cavalo estava cansado e faminto. O cavaleiro procurava algum lugar para dormir ao mesmo tempo que prestava atenção nos uivos na floresta.

O peso da cota de malha e da longa espada passaram a exigir mais do pobre animal. O homem desceu e seguiu caminhando à frente, puxando-o pelas rédeas. Um pequeno clarão chamou-lhe a atenção. A luz surgia de um ponto sobre o topo de uma colina. Tomando cuidado para não deslizar, afinal, machucar a si ou a sua montaria não lhe parecia agradável, subiu até lá. A exaustão produzia-lhe desejos por conforto e descanso. Uma boa cama, alguns litros de vinho e uma lareira. Nada mais. Uma boa companhia também não seria negada.

Possessão - Conto

A luz pertencia a um casebre feito de pedra. A porta da frente, feita de madeira de alguma das árvores da floresta, estava entreaberta. O cavaleiro pôde ouvir algumas gargalhadas abafadas, alguns sons parecidos com copos batendo sobre a mesa e risinhos de donzelas. Uma taverna, era tudo o que ele precisava.

Procurou algum local para atar o cavalo cansado, mas não encontrou. O som de dobradiças enferrujadas o fez olhar até a porta. Ela se abriu e uma donzela sob um vestido verde surgiu.

– Não se preocupe – ela disse com uma voz doce – cuidaremos do seu cavalo enquanto descansa, sor.

As rédeas caíram sobre a lama. O cavaleiro caminhou até a porta com o olhar fixo na moça. Após entrar, reparou que não havia mais ninguém ali dentro.

– Aonde estão todos? Posso jurar que ouvi gargalhadas e risinhos. – Tentou não soar confuso, acreditando no que havia ouvido.

A moça fechou a porta e caminhou, passando pelas mesas, seguindo até atrás do balcão. O homem permaneceu perto da porta, aguardando sua resposta.

– Estão aproveitando suas camas com suas companhias, sor. – A resposta surgiu. Ao final dela, um ensaio de sorriso brotou entre os lábios carnudos da jovem. – Tome, parece-me que está viajando há um tempo. – Ela pôs um grande copo de cerveja sobre o balcão, espuma escorrendo pela borda.

Depois de beber quase a metade de uma vez, solicitou um quarto para descansar. Assim como boa comida, para si e para o cavalo. Ao final, concluiu:

– Uma companhia também, se ainda houver.

Um aceno com a cabeça foi o suficiente. Seguiu-a até a escada que levava a um segundo piso. De fora, o casebre não parecia ser tão grande.

– O que faz por essas terras, sor? – A doce voz era impossível de se ignorar.
– Procuro por bruxas. – A Caça as Bruxas, declarada há anos.
– E o senhor acredita em bruxas? – Gemidos podiam ser ouvidos enquanto se aproximavam dos últimos degraus e avistavam as portas dos quartos.
– Não. Pelo dinheiro que recebo, qualquer uma se torna bruxa.
– Chegamos. – Disse, abrindo a quinta porta pela qual passaram. – Serei sua companhia esta noite, sor.

Os trajes de cavaleiro foram deixados sobre a cadeira, próxima à porta. Enquanto ele se retirava a rouba de baixo, a jovem acendia o braseiro. O quarto não era grande e não havia muitos móveis. Uma única janela ficava de frente para a porta. A lua exibia-se por ela, iluminando a cama.

Sentado sobre a cama, nu, observou enquanto ela se despia. Os cabelos, antes presos, eram longos e negros. A pele branca como a neve revelava-se aos poucos enquanto o vestido esverdeado era retirado. Ela aproximou-se e deu um leve empurrão sobre o peito dele, sugerindo-lhe que se deitasse. Os gemidos nos outros quartos aumentaram. O homem arrumou-se sobre a cama. A donzela subiu sobre suas coxas e sentou-se sobre seu quadril. Beijou-lhe o rosto, as bochechas e a boca. Cavalgou sem pressa, aumentado o ritmo da mesma forma que aumentavam os gemidos. Embebidos por prazer, breve ao ápice da cavalgada, a doce voz encontrou-se com os ouvidos do cavaleiro.

– Não se deve caçar bruxas.

O ar faltava-lhe aos pulmões. Ele tentou sair de baixo dela, mas não conseguiu. Sentia as entranhas arderem. Gritos misturavam-se com os gemidos. A pressão nos ossos, a dor no peito, não havia como fugir. Satisfeita, desceu de seu garanhão, vestiu-se e caminhou até o andar de baixo a espera de outro caçador.

Os gemidos cessaram. A satisfação de uma boa montaria, preenchida pelo êxtase do gozo, tornava o ato de matar muito mais prazeroso. Afinal, não se deve caçar bruxas.

Fotografia: The ride by Josh Adamski

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