Escrever esse texto é estar em uma sala vazia sentado de frente para o meu pior. É sentir o abismo olhar de volta. A sombra sorrir em meio a escuridão. Sentir o desespero pelo oxigênio embaixo d’água. Olhar para trás desesperado por sentir a presença de quem não está ali, mas te observava como manchas de Rorschach. Interpretações únicas para memórias cansadas.
Estou incomodado por escrever, porque é tirar de dentro as situações que aparecem repetidas vezes nos sonhos, lembranças, interações e relacionamentos. O rosto de quem não conheço, no relance de quem passou por mim. É como viver o mesmo dia ruim, sem ter força, vivendo o ápice da esperança sem a conclusão.
Me debater e espernear, como uma criança de ego ferido, decorando os erros que não consigo consertar. Não consigo apagar. Não consigo esquecer. Não consigo ressignificar.
Não consigo. Não consigo. Não consigo.
Há términos que chegam com culpa. Outros com rejeição. Há aqueles com leveza, sabemos que é o melhor. Há términos que fazem sentido, outros que são chantagem. Há brigas, há dores, alívio. Em todos, há o fechamento de um ciclo. O luto. Futuros que não serão escritos e expectativas que precisarão ser calibradas. Há adeus que significa um até logo. E existe até logo que nunca será aliviado com um novo olá.
Minha história mora no ego ferido. Na rejeição. No falar sem comunicar. E é na necessidade de comunicar que aprendi. Aprendi a expor até o que não sei o que sinto, mas sinto. O que é novo, mas ainda não tem nome. Aquilo que já conheço de mim e escolho não sufocar para que o outro se sinta bem. É incrível descobrir consertos para falhas antigas, porém é duro notar que foi demorado. Queria ter sabido antes.
O paradoxo do “viver para saber” com o cuidado de não romantizar para aprender. Poderia ter aprendido de outras formas, mas o processo foi esse. Minha história foi essa. Uma história carregada de medo em abrir o peito para a vulnerabilidade, em não saber que o choro soluçado era a linguagem para palavras que eu ainda não conhecia. Significavam dores que eu não sabia explorar. O corpo tem sinais e a gente paga o preço quando perde as oportunidades de interpretá-los.
Hoje, você é o término que não quero repetir. É a rejeição que não quero reviver. São os ciclos de memórias que ressignifico para que eu consiga ser leve. Porque hoje carrego, como um mosaico, as dores de um amor cansado, carente e soluçado. Um amor onde o silêncio era dor, não paz. E que a desconfiança morava nas entrelinhas dos reflexos que precisávamos melhorar em nós mesmos.
Fizemos o melhor que podíamos com as informações e maturidade que tínhamos. Me conhecer foi o jeito mais bondoso de nos deixar partir, mesmo que não tenha sido o caminho mais tranquilo.
Foto.