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Contos e Crônicas

Areia

Problemas. A cabeça cheia, o corpo tenso. Pensamentos que importam tudo de ruim da semana anterior. Adivinhando o que de ruim poderá acontecer na semana seguinte. As incertezas carregando experiências passadas, combinadas com pessimismo cultivado há tempos e autoestima mantida sob rédeas curtas. O sucesso do Sistema.

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Feliz o que mesmo?

Era tarde, talvez próximo da meia-noite. Ele não queria saber. A cadeira em que estava era gelada, assim como os relacionamentos que tentava cultivar ou a família que tentava agradar. O celular vibrava no bolso, mas se revelara um fantasma. Uma síndrome adquirida com a modernidade. Pensava se aquele fantasma assumiria uma forma maior e assustadora e o levaria para visitar o próprio passado. No final, concluiu que não. Por que faria isso com alguém que repensa sem parar as próprias ações?

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Rachaduras

“Eu sou gay.” Era isso o que Henrique queria ter dito durante a discussão com a mãe no carro. Enquanto ouvia as palavras “quando você vai nos apresentar uma namorada?” e respondia com um “não vou”. Sentia tremer as camadas de mentira que mantinham uma imagem diferente para os outros. Ninguém se explica quando se é hetero. Ninguém deveria se preocupar com quem a outra pessoa vai amar. O problema estava em achar que heterossexuais amam e homossexuais fazem sacanagem.

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Saudade

“Pega isso tudo e transforme em algo produtivo”. A frase aparecia todas as vezes que ele se sentia desolado. Era acompanhada da expressão serena do amigo, com os olhos encarando o horizonte e o sorriso torto sempre presente. Cena do dia em que ambos resolveram se acomodar longe dos prédios da cidade para acompanhar o pôr do sol.

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Possessão

A estrada lamacenta estava vazia. Graças à lua ele pôde vez por onde pisava. As grandes árvores projetavam suas sombras sobre o chão acobreado, nada se via além da estrada. O pobre cavalo estava cansado e faminto. O cavaleiro procurava algum lugar para dormir ao mesmo tempo que prestava atenção nos uivos na floresta.

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I’m glad you came

As pernas apressam-se. Minha respiração aumenta. Sinto o ar gelado se perder na garganta. O barulho das folhas secas sendo esmagadas juntando-se aos pios das corujas me observando. Os galhos chocam-se contra meu rosto. Não consigo enxergar direito. Preciso correr. Preciso encontrar um lugar seguro e me esconder. Não olho para trás.

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Quando a lua dorme

A lua exibia-se, majestosa. Fogos de artifício abraçavam o céu, quilômetros à frente. Richard sempre contava com a boa vontade dos outros para conseguir um lugar para dormir. Exausto, havia caminhado na densa floresta por dias. Acreditando que conseguiria comida e água, caminhou até os fogos.

Era uma vila pequena e estava em festa. Richard chegou na entrada, caindo de joelhos no chão lamacento. Uma jovem correu para ajudá-lo, evitando que batesse a cabeça ao desmaiar.

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