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Janela

Ele estava deitado de lado aproveitando a brisa vinda da janela logo em frente. A cama era grande, vestida com um lençol de textura lisa, confortável ao toque e convidativo. Atraente para o físico e mente, carregado de lembranças. O som da cortina dançando preenchia o quarto, provocando um show de luzes sutil sobre as pálpebras fechadas.

As recordações dos cheiros vieram primeiro. O perfume escolhido a dedo. O pós-barba usado mesmo que ela só tivesse sido aparada. O cheiro da pele pela manhã, quando acordá-lo com beijos no pescoço trazia prazeres bem-vindos.

Lembranças de quando o próprio peso era sustentado pelos cotovelos e uma das mãos percorria o pijama estampado a procura de uma brecha. Os dedos excitando a pele enquanto os lábios provocavam arrepios ao se encontrarem. Ao deslizarem pela barba aparada no dia anterior. Ao sussurrarem palavras gentis próximos ao ouvido.

Do gosto de menta no beijo demorado antes de sair para o trabalho. Do brigadeiro preparado em meio às gargalhadas antes do seriado começar. Daquele sabor particular e gostoso, difícil de descrever, que só aquela boca tinha.

Mesmo abrindo os olhos e vendo a cama vazia, o sorriso surgiu e o peito se aqueceu. Só porque terminou, as lembranças não precisam se tornar ruins. O bom também pode continuar depois do fim, ainda que regado pela saudade.

Imagem: Risa Ikeda

1 comentário em “Janela”

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