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Monólogo

será meu terceiro aniversário em são paulo. três datas com comemorações completamente diferentes uma da outra. eu vim da internet, colocava meus medos em textos, meus aprendizados em vídeos e compartilhava minhas dores com quem estivesse disposto a me assistir por 5 minutos. falei sobre minha depressão em vídeo – algo que depois de publicado nunca mais tive coragem para reassistir. sei que ajudei uma centena de pessoas com isso e tive meu coração mais leve com todos os abraços que recebi. porém, adquiri receio de me expor.

fico com o pé atrás na hora de escrever e não sei quem eu sou no meio do caos que me tornei. recomecei a fazer terapia, porque sei o quanto me faz bem, mas falta algo – e esse algo tenho quase certeza de que é a escrita. li textos dizendo que signo de peixes precisa se expressar através de algo, seja qualquer forma de arte, e cá está minha lua em peixes fazendo eu sufocar em inúmeras palavras não ditas.

meu relacionamento terminou no começo do ano. não me orgulho das minhas atitudes pós-termino, porém também não me arrependo. eu me afogava em raiva e sei agora o quanto ela foi significativa e reflete o quando amei também. me senti desrespeitado, usado e preso em um aquário enquanto quem eu amava partia aparentando não sofrer ou se importar. foram semanas de desequilíbrio, subindo quase até a superfície, porém afundando novamente sem qualquer perspectiva de melhora. eu não aceitava, me debatia atrás de pedidos de desculpas, palavras de consolo ou qualquer sinal de que tudo ficaria bem. eu me negava a afundar, sendo que naquela situação teria sido o melhor a se fazer.

eu não só lidava com as memórias, também pintei o rosto dele em todos os lugares que passei. o procurava na sombra das pessoas que passavam por mim, nos lugares que frequentamos juntos e em cada mobília do quarto que era meu. ele estava na minha pele, no espaço ao lado do meu travesseiro e nas roupas que eu vestia. ele tinha se tornado grande parte da minha vida e continuava lá, mesmo tendo partido.

uma parte minha seguia para frente, com raiva da situação. outra me puxava para trás e acreditava que daria certo, entendia nossa dinâmica e via um equilíbrio que naquele momento não existia. eu sabia que precisava aceitar sufocar para seguir em frente, mas sempre fui teimoso. eu segurava nos braços uma versão triste e doente de mim mesmo que não aceitava desistir e se debatia. era solitário e humilhante.

nenhum dia foi fácil. nenhum contato posterior foi tranquilo. o caos na cabeça o repelia, porém o queria de volta. nos esbarrávamos em esquinas e eu olhava para trás na esperança de que ele viria atrás, para conversar, para voltar, para um abraço… términos são mudanças que as vezes a gente escolhe, nem por isso significam que sejam fáceis. porém mesmo na desestabilidade de um relacionamento doente, eu não queria ter terminado. e a junção de todas as peças daquele final, explodiram em cacos que tento juntar até hoje.

eu não sei quem eu sou. o que eu quero para mim ou o que tenho de positivo para expor ao mundo. falei isso em uma sessão e a terapeuta sorriu para mim: “ótimo, então você pode ser quem você quiser.” isso não me tranquilizou, claro, porque sempre queremos respostas apontando a direção mais fácil, mas me ajudou a entender que toda limpeza e arrumação demoram e que está tudo bem.

hoje vejo positividade em meio aquele caos todo. consigo admirar quem amei, separando parte da dor que senti no término. não tive o que eu exigia, assim aprendi a suprimir essa parte – mesmo ela ainda existindo e ganhando voz quando não tô bem. aprendi a lamber minhas próprias feridas. já ouvi que somos completamente diferentes, e somos mesmo, porém também somos complementares. seu jeito de autorrespeitar-se e entender as próprias necessidades foda-se a quem doer. e o meu jeito de abdicar e exaltar quem para mim é importante. nada fora do equilíbrio faz bem.

eu venho mudando. aprendi sobre mim, encarei meus defeitos de frente e sei da minha parte ao contribuir para o relacionamento ter adoecido. eu pesei por não me entender. não era o que eu queria, mas era o que minha falta de maturidade contribuiu para acontecer. abracei coisas que não eram para mim. não me respeitei e entendi meus limites e me deixei esvaziar até não sobrar nada. a gente apanha até aprender.

olho para frente sabendo da enorme necessidade em reconhecer o meu próprio valor para não entrar nesse caos novamente. abraço meus defeitos, com o corpo nauseado por perceber a quantidade deles, mas entendendo que assim eles não crescerão ao serem ignorados. olho para frente sabendo que vai ficar tudo bem. que as vezes faz falta, que saber da minha culpa não redime a culpa do outro, e que as vezes a saudade aperta, mas que o tempo está fazendo ficar tudo bem.

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